, CONFOA 2011

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POVOAMENTO DOS REPOSITÓRIOS DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS DO BRASIL
Maria Dulce Gaudie Ley, Tania Chalhub

Última alteração: 2011-10-10

Resumo


Introdução: O acesso livre à informação científica é possível de ser viabilizado pela Via Dourada (periódicos científicos) e Via Verde (repositórios institucionais ou temáticos). A Via Dourada apresenta um cenário mais consolidado, com grande número de periódicos eletrônicos publicados em diversas áreas do conhecimento e crescente aceitação entre pesquisadores e demais atores envolvidos na comunicação científica.  Contudo, o acesso livre Via Dourada não é suficiente para que os resultados das pesquisas tenham maior visibilidade e impacto maximizado, condições que poderiam ser alcançadas por meio de depósito dos artigos e outros trabalhos em repositórios institucionais. Por possibilitarem maior visibilidade e impacto das pesquisas produzidas nas instituições, é crescente o número de universidades, em diversos continentes, mas principalmente na América do Norte e Europa – Stanford, Harvard e Minho, dentre outras - que disponibilizam os trabalhos de seus pesquisadores em repositórios institucionais. A Via Verde está presente nos debates sobre acesso livre e se apresenta como uma das estratégias de concretização do novo paradigma da comunicação científica desde 27 de junho de 1994 - a “proposta subversiva” de auto-arquivamento protagonizada por Stevan Harnad. Os debates sobre acesso livre no Brasil têm contado com a participação de órgãos governamentais como o Ministério da Ciência e Tecnologia, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior (CAPES). Estes órgãos, em parceria com instituições de ensino e pesquisa, têm despendido esforços no desenvolvimento e implementação de políticas de acesso livre à informação científica, por meio de ações de incentivo, instrumentação e capacitação das universidades e institutos de pesquisa brasileiros, visando proporcionar uma maior visibilidade à produção científica. Uma das iniciativas tem como objetivo o desenvolvimento de repositórios institucionais (RI) nas universidades e institutos de pesquisa. O cenário brasileiro apresenta crescente adesão dessas instituições ao acesso livre, com editoração de periódicos científicos e criação de repositórios. Para que os repositórios institucionais constituam uma solução relevante no fluxo e gestão da comunicação científica e reflitam verdadeiramente a produção intelectual de uma comunidade institucional, é necessário o estabelecimento de políticas que garantam o seu povoamento contínuo e sistemático. No Brasil, o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), vem liderando ações que possibilitem o acesso livre à informação científica, destacando-se a viabilização da implementação de repositórios institucionais nas instituições de ensino e pesquisa brasileiras, através do convênio FUNCATE/ FINEP/IBICT, que disponibilizou kits tecnológicos compostos de um servidor instalado com software livre (LINUX, Apache, PHP) e do aplicativo DSpace, específico para a construção do repositório, além de treinamento para a participação no programa. Do primeiro edital de convocação, em novembro de 2009, participaram 33 instituições de ensino e pesquisa, incluindo cinco universidades federais participantes do projeto piloto.[1]

Metodologia: O objetivo deste trabalho é mapear o estado atual de implantação e povoamento dos repositórios institucionais das 24 universidades públicas brasileiras participantes do primeiro edital de convocação de implantação de RI, bem como de outras universidades que aderiram ao projeto do IBICT através de outras chamadas. Pretende-se verificar o estágio de implantação dos RI nessas universidades. A pesquisa empírica foi realizada eletronicamente nos sites das unidades de ensino, adotando método de análise documental. Análise de dados específicos sobre o conteúdo do repositório: tamanho, tipologia documental, estrutura adotada para as comunidades e acessibilidade.

Resultados:Os resultados do levantamento apontam que no último ano houve crescimento de universidades federais com repositórios institucionais. Com relação ao conteúdo dos repositórios das universidades públicas estudadas a situação apresenta estágio diferenciado, a maioria conta com repositórios já povoados enquanto 29% não apresentam nenhum arquivamento. Algumas das que ainda não apresentam nenhum depósito nos repositórios, já desenvolveram políticas institucionais para a viabilização dos mesmos. Do total de 41.726 trabalhos depositados – maioria significativa de artigos - 71,35% encontram-se na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e 20,92% na Universidade de Brasília, ambas participantes do projeto piloto. Como a maior parte das instituições estudadas analisadas, a Universidade da Bahia classifica os materiais por áreas de conhecimento, além de acrescentar o item Memórias que é povoado por atas e documentos institucionais. Dentre as diversas áreas cuja produção científica está disponibilizada nos repositórios, merecem destaques as Ciências da Saúde, Ciências Biológicas, Física, Educação, Medicina Veterinária e Ciências Agrárias por constarem em maior número de RI e apresentarem número alto de arquivos depositados. A Universidade do Paraná e a do Rio Grande do Sul utilizam outra forma de classificação, a primeira por depositante (docente ou programa de pós-graduação) e a segunda por tipo de trabalho (artigos, livros e capítulos de livro, trabalhos em eventos, teses, dissertações, trabalhos de conclusão de curso e acervo fotográfico).  Com relação à acessibilidade, é importante ressaltar que as entradas para os RI são normalmente efetuadas pelos portais das bibliotecas, havendo aí boa visibilidade e baixa demanda de cliques para se atingir o objetivo, contudo, quando se busca o RI através do site da Universidade, sua localização torna-se difícil, ou quase impossível, se não houver, por parte de quem faz a busca, a inferência de que estes estão comumente alojados nas páginas relativas às bibliotecas. Os resultados apontam para avanços, ainda que desigual por instituição e área de conhecimento, no acesso livre Via Verde entre atores da comunidade acadêmica brasileira na esfera pública. Os diferentes estágios de implementação de uma das políticas de acesso livre à informação científica apontam para alguns fatores como a diversidade regional, a tradição da produção científica (instituição e área) e política institucional.

[1] - Disponível em <http://www.ibict.br/noticia.php?id=665>.


Palavras-chave


Repositórios institucionais; Acesso livre; Povoamento;Universidades públicas