Última alteração: 2011-10-10
Resumo
Pesquisa empírica desenvolvida em 2010 com historiadores de Brasil Colonial neste país (GAUZ 2011) teve por objetivo analisar em que dimensão o conteúdo dos livros raros digitalizados na internet integra o processo de comunicação científica da área/subárea de História do Brasil Colonial e qual impacto causaram na pesquisa. Dentre os objetivos específicos, a pesquisa identificou o comportamento de historiadores e o uso de periódicos científicos no que tange o Movimento de Acesso Aberto à Informação Científica. Igualmente, revelou aspectos e práticas da produção científica desses profissionais das Humanidades.
A técnica do questionário foi aplicada em 39 pesquisadores residentes no Brasil caracterizados como historiadores de Brasil Colonial que publicaram artigos em periódicos científicos da área entre 1995 e 2009, período equivalente aos primeiros 15 anos dos projetos de digitalização de acervo raro em bibliotecas.
Estudos de Comunicação Científica, em geral, ocorrem no âmbito das Ciências Naturais, pouco nas Humanidades – fato observado na literatura. Os periódicos, por sua vez - principal instrumento de disseminação da produção nas Ciências –, apesar de também serem amplamente utilizados nas Ciências Humanas, têm importância distinta, uma vez que o livro/monografia é considerado o suporte principal, de preferência (até o momento) impresso por uma editora acadêmica ou comercial de renome e encadernada em capa dura, se possível.
Os periódicos científicos nas Humanidades não são considerados tão atraentes para os editores comerciais como os das Ciências Naturais, conforme evidenciado por Guédon (2001), devido à sua natureza, por defender uma posição teórica e não um segmento do conhecimento; por abrigar muitos paradigmas e orientações; e também em decorrência de diferenças nacionais e linguísticas, que fazem com que determinados autores sejam objeto de estudo em um departamento ou em outro, ou seja, há uma “fragmentação” nas Ciências Humanas (e Sociais) que faz com que a ideia de periódicos “de elite”, existente nas Ciências Naturais, não seja passível de comparação. No caso brasileiro, o periódico científico é amplamente utilizado por historiadores e os principais títulos em História são de Acesso Aberto.
A pesquisa revelou que embora a maioria dos pesquisadores estudados escreva artigos de autoria única, já é evidente a existência de artigos em colaboração/autoria múltipla; de projetos colaborativos com outros pesquisadores; de publicações tanto no formato impresso quanto no eletrônico; e a possibilidade de publicação de monografia eletrônica. Metade dos pesquisadores desconhece o Movimento de Acesso Livre no Brasil mas são, no geral, favoráveis ao acesso à informação irrestrito, embora não concordem com pagamento de taxa para publicação em periódico de acesso aberto. Ficou clara a importância da via dourada e do crescimento da via verde no Brasil a fim de aumentar a visibilidade da produção científica. A via dourada, ou seja, os periódicos científicos, têm a legitimidade do historiador como canal de disseminação da informação atualmente, apesar de a monografia ainda ser o instrumento mais importante para a área. Essa prática de produção científica – uso de periódicos científicos específicos - se aproxima daquelas das Ciências Naturais, ao contrário do que ocorria até a década de 1980. Para que a via verde, a dos repositórios institucionais, seja instrumento efetivo de disseminação da produção científica, faz-se necessário que algumas barreiras sejam vencidas. Por parte dos administradores, com investimentos e educação nas instituições sobre o valor dessa iniciativa. Por parte dos pesquisadores, com a adoção da prática do autoarquivamento de suas pesquisas.
A pesquisa utilizou como referencial os estudos de Comunicação Científica gerais e os poucos específicos existentes com historiadores nos Estados Unidos. Os resultados permitem visualizar a evolução das práticas da produção científica de historiadores na subárea de Brasil Colonial, assim como sua inserção no e relacionamento com o Movimento de Acesso Aberto à Informação Científica.