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Um estudo da percepção do acesso aberto à literatura científica por pesquisadores brasileiros
Ariadne Chloe FURNIVAL, Pedro Carlos Oprime, Nelson Sebastian Silva Jerez

Última alteração: 2013-07-27

Resumo


O objetivo foi o de examinar como a crescente circulação da informação científica em acesso aberto (OA) é percebida pela comunidade científica brasileira, localizando-se dentro de um corpo de estudos internacionais sobre a percepção do OA pelos produtores e usuários da informação científica.  Especificamente, visou-se: identificar as opiniões da comunidade científica brasileira, em relação à crescente disseminação de publicação em OA, referente tanto à “via verde” quanto à “via dourada”; identificar os fatores que afetem a sua aceitação ou resistência em publicar suas pesquisas nas revistas em OA ou depositar cópias dos seus trabalhos em repositórios de OA; mapear aspectos do comportamento informacional desses pesquisadores como usuários de informação no que diz respeito ao seu acesso, uso e percepções de fontes disponíveis em OA. Subjacente a tais estudos é a premissa que é relevante aprofundar níveis de compreensão das opiniões e atitudes de cientistas sobre o OA, já que existe um consenso que um dos principais “gargalos” à adoção ampla  de práticas da disseminação aberta da informação científica é justamente a postura do pesquisador diante dessas novas práticas.  Foi adotada uma abordagem metodológica quantitativa, para garantir a maior cobertura possível do universo dos sujeitos da pesquisa, usando o método survey  para o  levantamento de dados, do tipo descritivo para identificar quais atitudes ou opiniões estão manifestos em uma população.  O survey foi composto por 29 questões fechadas utilizando uma escala Likert, e agrupadas em três grandes conjuntos que visaram captar a) o grau de conhecimento dos preceitos e práticas de OA detidos por pesquisadores; b) suas opiniões em relação ao OA; e c) suas práticas e hábitos atuais em relação à publicação e uso de trabalhos científicos.  A amostragem foi não-probabilística, usando para fundamentá-la, a base de dados de acesso público, a GeoCapes, que mostra que há 52.547,00 doutores permanentes distribuídos nas universidades brasileiras. O tamanho da amostra com 95% de confiança de erro de estimativa de 2,04% para mais e para menos é de 2300 doutores, aproximadamente. Depois, foi calculado o tamanho da amostra para cada UF, e o convite para acessar e responder o survey online (usando o software em código aberto, Limesurvey [http://www.limesurvey.org/]) foi enviado no e-mail do pesquisador.  Para que fossem os mais atualizados e confiáveis, os e-mails de contato dos pesquisadores foram colhidos de artigos publicados em 2013 em revistas científicas no SciELO e na Web of Science (WoS).  A pesquisa está em andamento, e até hoje, o retorno de surveys completados na íntegra foi baixo: 185 dos 1.329,00 enviados. No geral, os resultados preliminares revelam que os pesquisadores brasileiros detêm uma percepção positiva do OA, 70,88% concordando totalmente, e 23,63% parcialmente, com o princípio que o público em geral tem o direito de ter acesso aos artigos resultantes da pesquisa científica financiada pelos cofres públicos. Como tem sido levantado na literatura sobre surveys já realizados nesse campo, o possível risco de viés nos resultados é que os respondentes sejam oriundos dos grupos daqueles pesquisadores fortemente a favor ou contra OA.  Tal viés talvez seja evidente no resultado que 52,20% dos respondentes concordam totalmente com a noção de que o OA pode aumentar o impacto das publicações científicas, contribuindo assim para a potencial evolução dos campos científicos, e, na mesma linha, 85% acreditam que o OA suscita maior visibilidade aos grupos de pesquisa e às IESs. Foi interessante notar que 54% dos respondentes concordam com a possibilidade das suas instituições ou das agências de fomento à pesquisa obrigarem os pesquisadores a disponibilizar os resultados de pesquisa em OA. Também para cerca de 75% dos respondentes, o acesso fácil às publicações científicas por pesquisadores no Brasil via a plataforma Capes Periódicos não diminui a relevância da promoção e adoção do OA no Brasil. Tampouco a maioria se adere a certos mitos em torno do OA, 39,6% discordando totalmente com a noção que é mais fácil plagiar artigos disponíveis em OA (comparado com 7% que concordam totalmente). De modo semelhante, 54% dos respondentes discordaram totalmente com a afirmação de que publicações disponíveis em OA, sejam em repositórios, sejam em revistas, passam por uma avaliação pelos pares menos rigorosa. Mais que 41% dos respondentes discordam totalmente com a colocação que os dados brutos de pesquisas não deveriam ser disponíveis em repositórios digitais, mas ao mesmo tempo, 48,35% respondeu que nunca tinha depositado dados brutos num repositório. Em termos de hábitos de uso da informação, mais que 60% de respondentes afirmaram usar artigos encontrados em canais de OA, mas costumam referenciar a versão do mesmo artigo publicado em revistas assinadas. Em relação ao auto-arquivamento em repositórios, houve uma perceptível preferência (53% dos respondentes) pelo depósito do post-print revisada pelos pares, à versão pre-print. Trinta e oito por cento manifestou uma preferência de publicar em revistas com fator de impacto alto em detrimento àquelas revistas em OA, e foi expressiva (72%) a quantidade de respondentes que nunca usou a licença Creative Commons nos seus trabalhos.  As conclusões provisórias desta pesquisa em andamento, no geral, apontam para uma percepção positiva do OA pela comunidade científica brasileira. A disseminação das publicações científicas em OA é entendida pelos respondentes como uma forma de melhorar a eficiência e efetividade do sistema de comunicação científica, suscitando potenciais vantagens tanto para os pesquisadores-autores, quanto para as instituições de ensino e pesquisa e para a sociedade em geral. Mas é interessante observar que tais percepções positivas existem ao lado de práticas de publicação e citação ainda mais convencionais. Espera-se que os resultados possam eventualmente subsidiar políticas institucionais (das universidades públicas brasileiras) de comunicação, mediação e divulgação científica em canais de OA.


Palavras-chave


percepções da comunidade cientifica; comunicação científica; práticas de publicação científica