Tamanho da fonte: 
O MAPEAMENTO E A ANÁLISE DA PERCEPÇÃO E IMPACTOS DO ACESSO ABERTO À LITERATURA CIENTÍFICA ENTRE USUÁRIOS FINAIS DE INFORMAÇÃO CIENTÍFICA
Nelson Sebastian Silva Jerez, Ariadne Chloe Mary Furnival

Última alteração: 2013-07-29

Resumo


Objetivos. Este trabalho se propõe pesquisar como o acesso aberto (Open Access) à literatura científica revisada por pares é percebido e compreendido pelo público em geral, dito leigo, e como este usa, acessa e entende a informação encontrada desta forma. Procura-se também identificar de que maneira esta atende às necessidades informacionais destes usuários. A temática principal é o movimento do Open Access, entendido como acesso digital às publicações de comunicação científica, livre de outras restrições quaisquer que não aquelas provenientes da própria conexão à Internet. No escopo desta pesquisa, não utilizamos o termo “leigo” como se referindo simplesmente a alguém “ignorante”, mas sim a aqueles que não possuem domínio técnico ou saber formal na determinada área em questão, dado que o leigo em um assunto pode muito bem ser um expert em outro campo. Metodologia. Para tanto, foi utilizada como ferramenta a análise quantitativa de dados obtidos através da aplicação de questionário estruturado. Foram realizadas entrevistas com 73 pessoas escolhidas aleatoriamente e com participação voluntária. Destas, 55 foram realizadas online e 18 presencialmente. O questionário, consistindo de 26 perguntas fechadas, das quais duas apenas eram de múltipla escolha, sendo algumas obrigatórias e outras respondidas condicionalmente à resposta em outras questões anteriores, foi dividido para fins de construção e análise em quatro partes, além de um perfil demográfico simples. A primeira avalia o letramento informacional referente à saúde (EHIL – Everyday Health Information Literacy), utilizando se para tal uma adaptação da ferramenta resumida de monitoração desenvolvida por Niemelä et al., consistente de quatro perguntas com respostas baseadas na escala Likert de concordância, além de outras duas perguntas da ferramenta estendida, que foram usadas visando uma perspectiva mais clara da opinião dos entrevistados. A segunda parte buscava identificar como os usuários acessam a informação de saúde que atende suas necessidades, e o quanto confiam nos diferentes meios onde as encontram. A terceira parte visa medir a percepção dos entrevistados sobre seu próprio conhecimento sobre literatura cientifica e o conceito de acesso aberto à esta. A quarta parte tinha como objetivo avaliar como os sujeitos usam a informação encontrada no seu processo de tomada de decisão. Resultados. A primeira parte nos mostrou que apesar dos entrevistados perceberem a importância de estarem bem informados sobre assuntos de saúde, e de identificarem a importância de obterem informações de fontes médicas e/ou científicas quase que na mesma proporção (respectivamente 98,6% e 97,3%) isso não se traduziu em níveis semelhantes de confiança em suas próprias habilidades para recuperar informação e avaliar a sua confiabilidade, onde obtivemos respostas com entre 11% e 49,3% de discordância, além de porcentagens ainda maiores de respostas concordantes com as afirmativas de cunho negativo sobre a dificuldade de entender a informação recuperada (64,4% ) ou sobre a dificuldade de saber em quem acreditar no assunto saúde (65,8%). Ou seja, a maioria dos entrevistados reconhece a importância do assunto, acredita saber onde encontrar a informação (79,4%), mas ao mesmo tempo, sente-se insegura sobre como lidar com o que encontra. Também levantamos onde os entrevistados usualmente procuram se informar sobre assuntos relativos a saúde. Os cinco lugares mais apontados pelos entrevistados foram a Internet (83,6%), o médico ou profissional de saúde (74%), conhecidos sem competência especifica na área (56,2%), rótulos e bulas de remédios (48%), e conhecidos com competência na área de saúde (42,5%). No que concerne à Internet, fomos além e perguntamos em que tipo de sites os entrevistados procuravam informação sobre saúde e posteriormente perguntamos o quanto eles confiavam nesses mesmos tipos que eles indicaram previamente. Interessantemente, os repositórios de artigos apesar de aparecerem apenas na sexta posição, com 26%, estão à frente das wikis e dos fóruns, dois tipos de sites que acreditávamos terem mais apelo do que a literatura científica. Mas mais interessante ainda é a análise da credibilidade destes meios como percebida pelos entrevistados. Para a maioria dos tipos de site, apresentou-se numa curva, com quase todos os tipos tendo a maior parte dos entrevistados avaliando-os como “razoavelmente confiável”, quarto valor numa escala de cinco pontos. Os sites de notícias apresentaram seu pico de curva no terceiro valor, o intermediário neutro “nem confiável nem não-confiável”, e as wikis tiveram um patamar entre ambos esses valores. O único tipo de site que fugiu dessa distribuição foram justamente os repositórios de artigos, que tiveram todas suas citações no espectro positivo, com a grande maioria delas no quinto valor da escala, o “totalmente confiável”, sendo considerado pelos entrevistados como o mais confiável de todos os tipos de sites. Por último, é interessante também notar que 64,4% dos entrevistados mostraria ou já mostrou informações encontradas na Internet para o seu médico ou profissional de saúde. Na terceira parte encontramos que 74% dos entrevistados acredita que não saberia dizer a diferença entre um artigo científico e um artigo jornalístico sobre ciência, e também nos deparamos com que 83,5% também não sabe definir o que é Open Access/acesso aberto, e mesmo entre aqueles poucos que afirmaram acreditar saber existe duvida e até discordância com a definição da BOAI. Também encontramos que apesar de 57,5% afirmarem conhecer o repositório de acesso aberto Scielo, 62% destes nunca o usou para encontrar informação sobre saúde. Na quarta parte, os resultados nos mostram que dos 60 entrevistados que responderam ao bloco, uma porcentagem sempre acima de 60% utilizaram ou utilizariam informação sobre saúde encontrada na Internet de forma crítica no processo de tomada de decisão, sendo que 75% mudaram ou mudariam de médico por conta desse tipo de informação. Conclusões. Conclui-se que apesar do uso cada vez mais disseminado da Internet como fonte de informação cotidiana pelo público em geral, e da vontade latente de utilizar informação mais confiável, representada no estudo pela informação de origem científica, esta ainda encontra barreiras, que poderiam ser minimizadas pelo acesso aberto à literatura científica, resultando numa potencial melhoria do poder de tomada de decisão do público em geral.


Palavras-chave


Open Access; Letramento informacional; Compreensão pública da ciência