Essa pesquisa tem interesse particular na compreensão de como as práticas de publicação dos pesquisadores vêm sendo possivelmente influenciadas pelo paradigma emergente da disseminação e do acesso livre à informação científica, trazido pelo desenvolvimento da internet e pelas iniciativas ligadas ao movimento Open Access. Estabeleceu-se um recorte na área de Ciências Agrárias, objetivando analisar a compreensão de um grupo de pesquisadores dessa área acerca das publicações em acesso aberto, em especial sobre os periódicos, e as implicações desses meios de comunicação científica em suas práticas de publicação.  

A metodologia empregada para a construção dessa pesquisa envolveu inicialmente uma análise bibliográfica visando à compreensão da proposta do movimento Open Access e com fins a caracterizar o acesso aberto no Brasil. Em seguida, foram feitas entrevistas abertas com pesquisadores vinculados a grupos de pesquisa ligados às Ciências Agrárias. A aplicação da entrevista aberta como recurso de pesquisa possui finalidade exploratória, servindo para obtenção de informações mais detalhadas sobre um tema específico e formulações mais precisas, segundo a visão dos entrevistados. Desse modo, a partir das entrevistas realizadas, buscou-se perceber o conhecimento dos pesquisadores sobre as propostas do movimento pelo Open Access, assim como as suas opiniões a respeito de iniciativas no campo das publicações abertas, como o portal de periódicos Scientific Eletronic Library Online (SciELO). Adicionalmente, procurou-se compreender a relevância do acesso aberto nas práticas de publicação desses pesquisadores e como eles orientam suas escolhas de publicação para divulgar suas pesquisas.

 Conforme a tabela de classificação de áreas do conhecimento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), as Ciências Agrárias se constituem como uma área heterogênea, que engloba a agronomia, engenharia agrícola, engenharia florestal, estudos sobre extensão rural, entre outros. A produção científica brasileira nas Ciências Agrárias é intensa, possuindo grande visibilidade tanto localmente quanto em nível internacional. De acordo com dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, em 2009, o Brasil foi responsável por 68% dos artigos latino-americanos indexados na Web of Science e por 9,89% da produção científica mundial na área (bem acima da participação brasileira na produção científica como um todo, que gira em torno de 2%). Em relação à produção científica interna, entre 2007 e 2010, as Ciências Agrárias foram responsáveis por 20% dos artigos completos publicados em periódicos especializados, sendo que grande parte desses periódicos estão em acesso aberto.

Preliminarmente, tem-se observado a partir dos dados obtidos até o momento, que muitos dos pesquisadores entrevistados não conhecem o debate sobre acesso aberto. Contudo, eles reconhecem a importância dos meios de publicações existentes para sua área de pesquisa. Percebe-se que a questão do livre acesso aos artigos científicos não é algo que influencia as escolhas dos periódicos para a publicação dos resultados de pesquisa. Os pesquisadores têm se orientado para publicar em periódicos tradicionais e bem classificados no sistema de avaliação Qualis da área em que atuam, destacando a importância desses critérios para fins de avaliação acadêmica em suas instituições de pesquisa e pelas agências de fomento e para obtenção de visibilidade e reconhecimento entre os pares.

Ressalta-se que o presente trabalho é um recorte de uma pesquisa de mestrado em andamento, desse modo, os resultados apresentados aqui ainda são parciais. Espera-se que, ao final, esse estudo possa contribuir para a compreensão da questão e subsidiar o debate e estudos relacionados ao acesso aberto no Brasil, principalmente no tange à percepção dos cientistas sobre tema.